O lançamento e o tapa na cara
Depois do
cansaço e dos gastos da viagem para o lançamento do livro Dislexia Visual há aproximadamente
um mês, resolvemos passar o final de semana prolongado do feriado de 4 de julho
em casa. Entre outras tarefas domésticas, fizemos algumas atividades, como
aproveitar o calor para visitar uma piscina pública pela primeira vez aqui nos
EUA e também comemorar o aniversário de um amigo em uma cervejaria da cidade. Na
segunda-feira, porém, passamos praticamente o dia inteiro em casa. Preparamos
as marmitas da semana que estava para começar e ficamos assistindo o tempo
passar,sem grandes preocupações.
Já era o finalzinho da tarde, o que acontece
quase as nove horas da noite nesta época do ano, e estávamos Marida e eu jogados
no sofá. Ela assistia uma de suas séries na televisão e eu lía as últimas
páginas de Capitães da areia, de Jorge Amado, no meu celular. Notei que algumas
mensagens chegaram e uma pessoa que está preparando umas lembrancinhas para o
próximo lançamento do meu livro aqui em Houston me pediu algumas informações.
Parei e conversei com a Marida sobre uma possível solução para o que ela me
dizia na mensagem e tivemos uma ideia.
“A gente podia tentar aqueles saquinhos de
presente transparentes que usamos para dar doces para as crianças no Halloween.”
– disse a Marida.
“Boa! Sabe se sobraram alguns?”- perguntei.
“Tem bastante ainda sim. Acho que está tudo ali
no armário perto da porta”- respondeu-me ela de supetão.
Levantei-me e fui em direção à porta principal
da nossa casa para tentar achar os saquinhos plásticos que tinha imaginado.
Infelizmente procurar objetos nunca é uma tarefa muito fácil para mim e depois
de revirar tudo no armário por cerca de cinco minutos e não encontrar nada, eu
me rendi e pedi ajuda para a Marida. Ela, apesar de não muito feliz, pausou sua
série e veio me auxiliar na minha busca. Ela também revirou o armário e nada
encontrou. Logo pensou que poderia estar em outro armário na garagem, abriu a
outra porta e depois de 30 segundos voltou com uma caixa de papelão nas mãos.
“Na verdade eu acho que está dentro dessa caixa.
Pega o estilete e vamos abrir para conferir.”- disse a Marida
“mas está muito escuro aqui, deixa eu acender a
luz primeiro.”- disse eu.
Quando eu toquei no interruptor, notei que
fiquei ainda mais no breu, e a Marida meperguntou por que eu havia desligado a
luz. Fiquei parado sem entender o que estava acontecendo. Olhei para a luz e
fiquei parado por uns bons dez segundos perdido dentro da minha própria casa e com
um gigante ponto de interrogação estampado na minha face.
“Binho, o que está acontecendo?”- perguntou a
Marida
“Não sei!”- respondi totalmente confuso.
“Você não vai pegar o estilete?”- perguntou a
Marida já um pouco impaciente.
Botei a mão por cima da prateleira onde fica o
estilete e abrimos a caixa, na qual de fato se encontravam os saquinhos que eu buscava.
Marida voltou ao sofá, e para a sua série, enquanto eu separei os objetos que
buscava e guardei a caixa novamente na garagem.
Fui para a cozinha e parei de frente ao
interruptor. Acendi as luzes e logo Voltei
a apagá-las. Acendi tudo de novo e fiquei olhando fixamente para o teto. A
Marida novamente pausou a série e voltou a fazer a mesma pergunta, só que agora
com um ar de maior preocupação.
“Binho, o que está acontecendo?”
“Deu algum problema aqui na minha vista. Eu mal
consigo dizer se a luz estáacesa ou apagada!”- respondi.
Acendi mais luzes na casa e tentei deixar tudo
o mais claro possível, mas ainda sim tudo me parecia muito escuro. Peguei meu
celular e não sabia se a tela estava ligada ou não. E o mesmo aconteceu com o
computador e a televisão. Comecei então a ficar um pouco desesperado e a Marida
veio me abraçar. Ela me trouxe um copo d’água, apagou todas as luzes da cozinha
e da sala e me ajudou a sentar no sofá.
Depois de alguns minutos fomos par ao quarto, mas dormir não foi uma tarefa
fácil naquela noite.
No dia seguinte liguei para o consultório
oftalmológico que costumo frequentar e agendei para visitar minha médica. Ela rapidamente
fez o diagnóstico, mas para ser bem sincero, eu já sabia o que ela teria para
me dizer. Eu novamente, pela enésima vez na vida, havia tido um sangramento e
mais uma injeção então seria necessária. Minha vista seguiu escura o resto da
semana e muito colírio e repouso foram necessários. No ponto atual, apesar de
um pouco mais clara, minha visão não me permite mais ver as lâmpadas com
nitidez. Ou seja, eu estou enxergando ainda pior do que estava há uma semana
atrás. Ainda consigo notar luzes, porém com cada vez menos detalhes e com menor
percepção do que está a minha volta.
Publicar um livro foi, e tem sido, uma das
maiores experiëncias da minha vida. Tento falar sobre esse feito, mas muitas
vezes me faltam palavras para descrever o quão realizado me sinto com tudo o
que tem acontecido comigo nestes últimos meses. Foi muito emocionante estar em
Curitiba, São Paulo e, principalmente, Cornélio Procópio, com meus amigos,
familiares e até mesmo desconhecidos. Também foi incrível trabalhar na
preparação de todos os eventos , mesma fase que estou vivendo neste momento aqui
em Houston. Tudo isso me fez sentir muito acolhido e ter ainda mais convicção
que a vida deve seguir em frente, a despeito dos pequenos grandes problemas.
Além disso,tenho recebido mensagens de carinho de muitas pessoas, além das várias que
compraram o livro pela internet e, com muita alegria, divulgam para a sua rede.
Eu só tenho dentro de mim gratidão para todos vocês e uma enorme vontade de lhes
abraçar com força e tentar retribuir todo esse carinho que tenho recebido. Dessa
forma, sinto-me muito feliz com tudo o que tem me acontecido a partir da
publicação do Dislexia Visual e extremamente empolgado com as inúmeras
oportunidades que tem se apresentado diante de mim neste momento. Mas a vida
segue nos pregando peças.
Eu sei que este é o primeiro texto que publico
aqui no blog após os eventos de lançamento do meu livro e que, portanto, tanto eu quanto você, que me lê agora,
adoraríamos que o assunto principal fosse todo o ambiente mágico que cercou
estes dias. Talvez você quisesse saber o
quanto eu me sinto feliz e realizado, ou quem sabe eu poderia falar sobre novos projetos e
perspectivas. Mas, a realidade sempre tende a nos mostrar uma face diferente do
que desejamos, e eu não me sinto habilitado para falar sobre outro assunto
a não ser este “tapa na cara” que a vida me deu nesta semana. Pois toda a empolgação
que eu senti com o lançamento do Dislexia Visual sofreu um enorme revés com a
piora significativa do resquício de visão que eu ainda conservava.
Pelo menos Em mais de uma oportunidade, tanto
em palestras quanto entrevistas, falei que uma palavra que não é encontrada no
meu livro é “superação”. E isso não é só uma questão semântica, mas também filosófica.
Eu entendo que superar um determinado obstáculo significa que ele ficou para
trás e que, portanto, estamos prontos
para um próximo passo. Mas eu jamais posso dizer isso da minha deficiência,
pois como já faleiém várias oportunidades, ela chegou muito cedo na minha vida
e, muito provavelmente, vai me acompanhar até o fim dos meus dias. A partir do
momento que eu entendo que a minha relação com a deficiência não deve ser de
aprender a superar, e sim de conviver, eu começo a ficar em paz comigo mesmo e compreender
que, por mais que eu leve ainda mais tapas na cara, a lição mais preciosa da
vida é que ao invés de viver querendo tentar bater de volta, o importante realmente
é oferecer a outra face e tentar viver
em harmonia.
Mas, eu também bem sei que apanhar cansa...
Weber Amaral
Notas?
·
Se
vocë deseja adquirir o livro DislexiaVisual, este é o endereço web : https://kotter.com.br/loja/dislexia-visual-weber-amaral/
· Teremos o lançamento do livro aqui em Houston no próximo sábado, dia 16 de julho. Divulgo mais informações pelas redes sociais.
"Niguém baterá tão forte quanto a vida. Porém, não se trata de quão forte pode bater, se trata de quão forte pode ser atingido e continuar seguindo em frente. É assim que a vitória é conquistada."
ResponderExcluirEu sempre levei comigo essa frase do filme do Rocky Balboa, acho que vale a menção. Nunca desista, Binho! Nós, seus amigos, estamos aqui para apoiá-lo nos seus dias de realização (como o lançamento do livro) ou de dificuldades. Conte sempre comigo!
Abraços!
Alysson
Valeu meu amigo.
ExcluirDe fato, por mais que seja cansativo apanhar, o que nos define é de fato o quanto aguentamos as pancadas da vida.
Um grande abra;o e tamu junto sempre.
Como sempre, você me surpreende em suas palavras! Fiquei imaginando a sua reação e a da Carol no momento em que acendia e apagava as luzes! Parece que eu estava dentro do ambiente junto de vocês! Sua vida tem sido constantes desafios! E peço sempre a Deus que te dê forças, discernimento e paz no coração para enfrentá-los! Você está constante em minhas orações! Sucesso sempre! Você pode, você consegue e você é muito capaz! Você mora no meu coração! ♥️
ResponderExcluirOi prima e madrinha (jamais tia).
ExcluirSabe que eu senti um super elogio no teu comentário. Saber que você se sentiu parte da cena [e um baita elogio pra minha escrita. Fiquei me achando aqui .
Um beijão e muito obrigado por tudo sempre
Sempre estaremos apanhanhdo mas seguir em frente jamais será apagado de nossas caminhadas. Cada um tera um grau de dificuldades e ler seus textos nos faz seguir em frente.
ResponderExcluirOI mano. obrigado pela força de sempre. Sim tentamos seguir em frente a despeito dos tapas na cara. hehe
ExcluirBeijão
Você é demais! Que orgulho sinto de vc!👏👏👏👏
ResponderExcluirOi anônimo.
Excluirobrigado pelo apoio. isso é fundamental para resistir e seguir em frente. Abraços.
Meu amigo, você é o verdadeiro "Rock Balboa" nunca vi uma pessoa levar tantos golpes da vida e se levantar assim. Tenho muita admiração por você, e te desejo muita força.
ResponderExcluirForte abraço!
Oi meu amigo anônimo
ExcluirEu vou apanhando e me levantando .. isso cansa, mas se essa é a única opção que temos, que seja assim.
Muito obrigado pelo apoio.
Grande abraço