Bom trabalho, amigo!
Depois de alguns meses sem viajar para nenhum lugar, devido à pandemia, Marida e eu resolvemos passar um final de semana na região de Fredericksburg, cidade texana fundada por imigrantes alemães e que é bem conhecida pelas belas paisagens campestres e também pela grande quantidade de vinícolas em seu entorno. A ideia era, então, dirigirmos as já esperadas quatro horas e levar conosco as compras para que pudéssemos, portanto, cozinhar ali todos os dias de nossa estadia.
Como
queríamos manter o protocolo de isolamento social, hospedamo-nos em uma casa em
um minúsculo vilarejo chamado Tow, o qual possui não mais do que dez casas e
fica às margens de um belo lago da região. Deste lago saía um pequeno córrego
que dava de fundos para a nossa estadia. Ali podíamos sentar-nos no final de
tarde e assistir ao pôr do sol. Na outra margem do córrego havia uma pequena
mata, com um amontado de árvores que aparentavam ser eucaliptos. Dessa pequena
mata, em um dos dias que ficamos ali do lado de fora ao pé de uma fogueira não
acesa, vimos uma família de veados caminhando tranquilamente. Eles,
aparentemente, nem se perturbam com a nossa distante presença, contudo,
pareciam ter uma audição tão aguçada que, ao nosso menor movimento para pegar
uma taça de vinho, já andavam alguns passos para trás. Ou seja, estávamos em um
lugar bem isolado da civilização.
Tudo
até aqui deve estar soando a você, leitora ou leitor, muito reconfortante,
bucólico e, obviamente, romântico. Contudo, eu quero agora começar a recontar a
história desse final de semana a partir de uma outra ótica: a minha.
Antes
mesmo de sairmos da nossa casa em Houston, eu já estava bem apreensivo, pois
assim eu tenho ficado sempre quando tenho que dar passos rumo a algum lugar
novo e desconhecido. Quando chegamos em Tow e entramos naquele casebre, eu já
me dei conta de onde estávamos e como haviam de ser as coisas ali para mim. A
Marida, no entanto, começou a elogiar os detalhes extremamente rústicos da
casa, desde as vigas de madeira bruta, passando pela lareira e até os móveis de
estilo vintage. Ou seja, ela realmente apreciou o local.
Porém,
todo aquele entusiasmo que ela externava não se transferiu para mim, pois a
única coisa que eu conseguia reparar era o quanto aquela casa era escura. Além
disso, todos os detalhes do córrego e dos fundos do casebre não me eram
perceptíveis, e, sendo ainda mais honesto, eu não vi veado nenhum naquela
tarde. Portanto, tudo isso que descrevi até aqui me foi narrado pela
Marida.
O
interior do casebre era, sem dúvida, o que mais me perturbava, mas nossas
saídas também me custavam muito. Contudo, mesmo passando por essas frustrações,
eu tinha firme em mim a ideia que, se quisesse aproveitar bem aquele final de
semana com a Marida, eu teria que deixar de lado essas gigantescas adversidades
e tentar, de alguma forma, extrair o belo daquilo tudo.
Apesar
de já estarmos quase entrando no inverno, tivemos a imensa sorte de os dias
estarem lindos naquele fim de semana, com o céu limpo e a temperatura bem
amena. Ou seja, felizmente também conseguimos aproveitar alguns ambientes
abertos. Por isso, na mesma tarde que chegamos, caminhamos até à vinícola que
estava além do córrego e da pequena mata. A caminhada era de uns 20 minutos e,
por mais que o sol, que batia bem de frente conosco, ofuscava-me ainda mais a
visão, segurei bem firme a mão da Marida e chegamos ali. Tivemos uma linda
tarde, degustamos uma variedade dos vinhos locais enquanto admirávamos o belo
campo de vinhas à nossa frente.
No
dia seguinte, fomos a Fredericksburg, cidade esta que é basicamente uma grande
avenida repleta de “barbecues” texanos, restaurantes alemães e lojas de
souvenir. Além disso, as vinícolas da região oferecem seus produtos e passeios
às suas instalações. Passamos ali horas muito agradáveis, passeamos por um
memorial da segunda guerra mundial e nos deitamos na grama da praça principal
da cidade para um cochilo após um almoço típico alemão.
Na
volta para Tow, resolvemos parar em uma cidade chamada Llano, pois vimos que
ali havia algumas paisagens bonitas para conhecermos. Foi então que paramos no
Badu Park e novos desafios começaram para mim.
Paramos
no estacionamento do parque e, assim que descemos do carro, ouvimos um barulho
de quedas d'água. Entramos no jardim que ficava de frente ao local que havíamos
estacionado e a Marida logo disse:
“Que
bonito! Tem umas quedas d'água ali para baixo.”
Eu
sorri para ela, mas não falei nada. Ela, então, continuou:
“Tem
uma pequena prainha perto das quedas e há algumas pessoas lá, vamos tentar
chegar mais perto?”
Eu
disse que sim e seguimos descendo, com muito cuidado, uma pequena trilha
pedregosa. Eu tentava calcular cada passo, mas não escapei de tomar um ou dois
escorregões. Resolvi, então, abrir a Filomena e usá-la para me ajudar na
sustentação - ela é bem firme e podia me auxiliar bem naquela situação.
Quando
chegamos a um lugar mais plano, a Marida disse, com alguma tristeza nítida na
sua voz:
“Então,
por aqui a gente não vai conseguir chegar lá na prainha não. Teríamos que fazer
outro caminho, mas deveriamos saltar algumas pedras por sobre a água. Então é
melhor deixar para lá.”
“Ah
Marida, a gente pode tentar. Se não der certo a gente volta.” - eu disse
tentado reanimá-la.
“Tá
bom! Vamos! Eu vou te ajudar a achar as pedras. E a água está bem calma, acho
que a gente consegue.” - a Marida disse com muita empolgação.
Marida,
Filomena e eu voltamos, então, para a trilha pedregosa e seguimos descendo rumo
à margem do rio. Passamos por algumas crianças que brincavam com carrinhos de
controle remoto - daqueles com grandes rodas para terrenos irregulares.
Consegui notar que elas ficaram me olhando, aparentemente achando curiosa
aquela cena.
Quando
chegamos ao nível da água, nos deparamos com um pequeno feixe de água. Como o
solo era bem claro e a água, escura, eu conseguia notar as pedras, mas, mesmo
assim, a ajuda da Marida seria extremamente necessária. Ela ia então na frente
e me dizia onde pisar. Uma ou duas vezes tive que colocar a Filomena no fundo
do rio, o qual, para ser bem honesto, era bem raso (pelo menos por onde
passamos).
A
maioria das pedras que eu precisava pular eram grandes e cabiam um pé inteiro
pelo menos, contudo, consigo me lembrar de pelo menos uma delas ser bem
estreita e requerer ainda mais cuidado e destreza para superá-la.
Após
todos esses obstáculos, Marida e eu chegamos à prainha e tiramos algumas fotos
(as quais propositalmente não estarão neste post). O som da água caindo era bem
relaxante e a brisa era boa, apesar de um tanto quanto fria.
Ficamos
ali por alguns minutos e resolvemos então regressar ao carro, o que significava
passarmos novamente por todas as pedras sobre o rio. Começamos, então, a subir
a trilha pedregosa novamente. No meio dela, um senhor que estava sentado no
barranco e com um carrinho de controle remoto nas mãos, ou seja, provavelmente era
o pai de alguma das crianças que ali brincavam, olhou para mim e disse:
“Good
job, buddy!” - que em inglês significa “Bom trabalho, amigo!”
Por
menor que possa lhe parecer essa passagem, eu, particularmente, senti-me bem
orgulhoso daquele dia, e não só pelo desafio físico em si, mas sim pela atitude
que eu resolvi tomar em relação àquelas pedras do meu caminho.
O
final de semana foi realmente perfeito, e, sem dúvida, isso tem a ver com
superação de cada minuto que tive que ali passar. Mas, o que realmente fez
aquele momento especial foi a mão que me foi estendida e a simples palavra
proferida pela Marida: “Vamos!”.
Afinal,
sem sombra de dúvidas, por infinitas vezes eu desceria e subiria aquela trilha
e passaria por todas as pedras daquele rio, só para ver novamente aquele
sorriso que a Marida mostrou lá na prainha.
Weber Amaral
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Desafios que valem um sorriso, isso sim é amor! 🥰
ResponderExcluirFiquei curiosa por conhecer a prainha, o casebre e "o caminho de pedras", torço para que as 3 imagens apareçam em textos futuros.
Olá
Excluiré muito bom ter essas pequenas grandes motivações para nos fazerem seguir em frente.
Sobre a sua curiosidade.. fica tranquila q eu mesmo não vi muito mais do q vc :-p.... mas sim, tenho fotos e posso compartilhar.. hehe..
Rei do romance! Lindo texto binho
ResponderExcluirRomance!
ExcluirValeu Gandhi, abraços
Aí que lindo ! Tão bom ler textos em que sentimos o amor. Vocês são maravilhosos !
ResponderExcluirObrigado Danyelle
ExcluirFico feliz que tenha apreciado a história.. um grande abraço pra vc e família
Love's in the air!
Fiquei super curiosa pra ver as fotos da prainha e muito feliz por não terem desistido na outra margem do rio! Aposto que do mesmo jeito que a Carol abriu um sorriso ao ver a praia, você deve ter aberobum ainda maior ao ver a felicidade dela! Sigam sempre de mãos dadas que vocês vão muito longe!
ResponderExcluirhahahha.. tá bom, só pra diminuir um pouco as espectativas aqui, a prainha estava mais pra um banco de areia (ou terra arenosa)... nada demais...
ExcluirMas sim, foi bem legal aquele percurso e chegar até lá.
Beijos e obrigado Fernanda
Ow Bin, me emocionei com seu texto, o final me fez me apaixonar ainda mais p vc!!! Te amo mano!!! Eh noix
ResponderExcluirOuunnn.. que bonitinho Gabriera. Tbm te amo meu irmão. Um grande abraço!
Excluir🥰😍🙏🏻 Lindo texto, Binho! Parabéns! Bjo pra vcs! ❤️
ResponderExcluirValeu Giu.. beijão pra vcs aí tbm....
ExcluirBinho... gostei muito da construção da sua narrativa: do idílico, para o real. Ficamos curiosos, após a descrição inicial romântica, para ver o que virá! Orgulho de vc. Sempre! Abraço
ResponderExcluirQue orgulho em ter a minha narrativa elogiada por você .. grande beijo
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